O relato bíblico do episódio da construção da Torre de Babel afirma que em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar (Gn 1:1). Não havia, portanto, nenhuma dificuldade relacionada à comunicação.
A uniformidade do sistema de signos não somente permitia a integração de toda comunidade em torno de uma só cultura, mas também proporcionava uma unidade de propósito (não serem espalhados por toda a terra) diametralmente oposta à ordem divina de multiplicarem-se e encherem o Planeta.
Corporativamente, lançando mão da tecnologia a sua disposição, não medindo esforços para atingir os mais altos patamares de reconhecimento e realização, a cidade fora edificada sob o prisma da vaidade e do orgulho humano.
Este corporativismo satânico despertou a ira de Deus que tomou providências restritivas, confundindo a linguagem de todos, de modo que um não entendesse a linguagem do outro, pois até então, não se constatava barreiras culturais, nem tão pouco fronteiras políticas. “Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem” (Gn 11:6).
A uniformidade lingüística deixou de ser uma realidade, e assim também a homogeneidade cultural. A multiplicidade de linguagem tornou a comunicação menos efetiva e a integração deu lugar à dispersão.
A re-elaboração de um novo sistema de signos lingüísticos particulares e distintos deu origem às comunidades internacionais, suscitando concomitantemente fronteiras culturais, sociais, geográficas e políticas. Porém, o caráter conquistador e empreendedor do ser humano, ao longo da história o têm impulsionado a percorrer numa direção oposta a que foi deflagrada no episódio de Babel.
A dispersão de Babel vem sendo diluída por um fenômeno universal denominado Globalização. Na verdade, o processo de globalização vem sendo desenvolvido antes mesmo da Era Cristã através de impérios que expandiram seu poderio e domínio por quase todo mundo conhecido, tais como os Impérios Assírio, Babilônico, Persa, Grego e Romano. Aliás, durante o período greco-romano houve uma integração não somente geopolítica, mas também cultural, proporcionada pelas inúmeras estradas romanas e pela língua grega com todo seu arcabouço filosófico e cultural.
Outro período da história absolutamente relevante ao processo de globalização foi a Idade Média com as grandes navegações e as descobertas de novas rotas comerciais e de novas terras. No entanto, é no século XX que nos deparamos com avanços nítidos e significativos desse processo de globalização, tendo como alguns exemplos o fim da Guerra Fria entre Rússia e Estados Unidos da América, a queda do Muro de Berlin, a formação da União Européia, O Mercado Comum Europeu, o Euro, o Mercosul, a Alca, etc.
Todos esses eventos contribuíram para o estreitamento das relações internacionais, mas o que mais caracteriza esse processo de globalização diz respeito à expansão e ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação.
Hoje em dia não somente as formas, mas também a velocidade como as informações podem ser transmitidas são cada vez mais eficientes. Os meios de comunicação desenvolvem cada vez mais tecnologias que facilitam a integração entre os povos, transpondo fronteiras geográficas, políticas e culturais.
Cada vez mais pessoas tomam consciência dessa unidade global e preocupações anteriormente especificas ou regionais vem se tornando internacionais tais como o desmatamento da Amazônia ou de florestas tropicais, o derretimento das geleiras, o buraco na camada de Ozônio, o efeito estufa etc.
Um outro fenômeno proporcionado pelas tecnologias da comunicação, é o da colonização virtual global, onde os processos de aculturação podem ocorrer sem a necessidade do deslocamento físico e pessoal. Por isso, nunca se falou tanto em preservação das origens e das tradições culturais de um povo.
Nesse ponto, a linguagem como um sistema de signos que permite a comunicação entre os membros de uma comunidade constitui-se elemento fundamental ao processo de globalização ou da formação de uma comunidade Universal. Em vista disso, um novo sistema de signos tem sido vastamente difundido e utilizado na Internet, Chat, blogs, orkut etc.: a ciber-linguagem, uma linguagem universal compreendida por praticamente todos os ”linkados” a Grande Rede, independentemente da língua ou nacionalidade.
Parece que estamos diante da construção de uma “nova torre de Babel”, sendo que no processo inverso. Na primeira, de uma única língua se originaram várias e com elas a dispersão. Na segunda Torre, a da Globalização, de várias línguas origina-se uma, e com esta, a reunificação dos povos em uma Comunidade Universal. “Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer” (Gênesis 11:6)