sexta-feira, 16 de abril de 2010

Gente tratada como lixo

A tragédia ocorrida no morro do Bumba, na cidade de Niterói, trouxe à tona o modo como boa parte população menos favorecida vem sendo tratada no Brasil ao longo de anos. O morro do Bumba expõe ao mundo pelo menos duas realidades que não se podem esconder debaixo da terra:

A primeira, é que gente pobre é tratada como lixo não reciclável enterrado nas periferias das cidades, como escória da sociedade, aterrada sob os escombros da indiferença e da negligência da administração pública, encerrada na imobilidade social, a margem de uma vida digna e respeitável.

Ao comentar minha postagem anterior, um internauta afirma haver presenciado uma cena deprimente quando acompanhava aos resgates das vítimas dessa tragédia no morro do Bumba. Ele viu um bombeiro retirar o corpo de uma pessoa sob os escombros e o mesmo ser jogado dentro de um saco de lixo. Acho que essa imagem retrata bem esta inexorável realidade.

A segunda, é que o morro do Bumba, como tantas outras áreas carentes do nosso país, deixa evidente o contraste social, o desequilíbrio da distribuição das riquezas desse país e a certeza de que ainda que o Brasil ostente uma das maiores cargas tributária do mundo, não há retorno suficiente de benefícios sociais para a maioria de sua gente.

O relatório sobre gastos dos municípios do Estado do Rio de Janeiro, realizado pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), em 2009, mostra que apesar de ser a cidade número um em arrecadação de IPTU, Niterói, município da região metropolitana do Rio, onde ocorreu o maior número de mortes por causa das conseqüências das chuvas, investe muito pouco na conservação da cidade.

Segundo o relatório, Niterói é a cidade que mais arrecada o imposto por morador. Segundo o Portal de noticias G1.com, “A média entre as cidades fluminenses é de R$111,32 por habitante. Em Niterói, a média sobe para R$ 299,79, quase três vezes mais. No entanto, no quesito investimentos, Niterói aparece apenas em 80º lugar, com apenas R$ 11 milhões em investimentos em 2008, 41,1% a menos que em 2004.”

Tais dados só ratificam o descaso e a negligência dos pseudopoliticos dessa nação, que ao invés de governarem para o povo, para a cidade, para os cidadãos da polis, mostram-se efetivamente despreparados ou mal-intencionados.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Uma cidade que semeia lixo colhe chorume e lágrimas

Niterói está com uma ferida aberta que exala o mau cheiro de um tumor maligno que se desenvolveu silenciosamente durante anos de negligencia e indiferença. O rótulo de ser a quarta cidade brasileira em qualidade de vida vinha encobrindo e mascarando uma dramática realidade que hoje a todos nós tem assolado.

Niterói é hoje uma terra que está sangrando chorume. Uma terra rasgada de dentro pra fora.

Sob o solo do Bumba, uma bomba relógio detonada sem hora marcada, explodindo sonhos de vidas marcadas pela vida, apagando histórias, revolvendo a terra numa avalanche de dor, sofrimento e morte. Pânico, gritos e prantos irrompem-se no meio da noite e logo se interrompem dando lugar ao silêncio, ao vazio, ao espanto.

É verdade que há muito tempo não caía tanta chuva assim, porem atribuir aos fenômenos naturais, exclusiva responsabilidade pelas tragédias ocorridas em quase toda região metropolitana do Rio de Janeiro é mero artifício de políticos que maquiam as cidades com obras faraônicas, que constroem “caminhos” para a burguesia e pavimentam estradas que levam a morte uma população carente e sofrida. Políticos que assentados em seus gabinetes reais, se anestesiam a dor do mais pobre, fazem-se surdos e indiferentes ao clamor que ecoa da periferia.

A tragédia ocorrida no morro do Bumba, na cidade de Niterói, deixa exposta não somente uma ferida social, mas traz à tona a forma como a população menos favorecida vem sendo tratada ao longo de anos pelos maus políticos desse país: Como escória da sociedade, como lixo não reciclável enterrados nas periferias das cidades, encerrados na imobilidade social, a margem da dignidade.

O morro do Bumba, como tantas outras áreas carentes do nosso Estado, deixa evidente o contraste social, o desequilíbrio da distribuição das riquezas desse país e a certeza de que ainda que o Brasil ostente uma das maiores cargas tributária do mundo, não há retorno suficiente de benefícios sociais para a maioria de sua gente.

O morro do Bumba expõe ao mundo uma realidade que não se pode esconder debaixo da terra: gente tratada como lixo, aterradas sob os escombros da indignidade; gente que tragicamente foi plantada como semente de esperança para que no amanhã possa florescer a JUSTIÇA.