sábado, 11 de julho de 2009

BOLO, BOLAS E BALAS PERDIDAS - A estranha relação entre risos e lágrimas, entre a vida e a morte

08.07.96 † 08.07.09
Todos nós sabemos muito bem que o mundo que a gente vive é cheio de contradições e paradoxos. Aliás, assim é a vida. No entanto, não cessamos de nos surpreender, e porque não dizer, nos chocar com algumas dessas circunstâncias que colocam em xeque nossa prepotência ou nossa idéia de que possuímos controle absoluto sobre as situações da vida.

Por mais que a vida nos prove e nos ensine que nem sempre os fatos transcorrem como a gente quer, nem tão pouco segue a ordem e o curso natural das coisas, nos assustamos quando nos deparamos com histórias como a da menina Letícia de apenas treze anos de idade, que dramaticamente tem sua vida abreviada por uma bala perdida, exatamente no dia do seu aniversário.

Definitivamente não há como descrever o que se passa na mente e no coração de uma mãe ao ver diante dos seus olhos, olhos que durante sucessivas noites ficaram sem repouso cuidando e cercando de afeto, aquela que de forma brutal e violenta é arrancada dessa vida, tal como uma flor que ainda não desabrochou.

No dia em que celebraria seu 13º aniversário, Letícia Botelho sai com sua mãe de Maricá, cidade onde foi morar para fugir da violência que impera na cidade do Rio de Janeiro, e vai para esta cidade para comprar um presente de aniversário.

Por ironia do destino, sua fuga tornou-se frustrada, pois, como fera que espreita sua caça aguardando o momento oportuno para dar o bote certeiro e fatal, assim a violência se lançou sobre Letícia (cujo significado é alegria) e sua família. Despedaçando sonhos, rasgando projetos, interrompendo expectativas, transformando alegria em dor, riso em pranto, festa em lamento, vida em morte.

Até quando seremos presas fáceis da violência urbana? Até quando ficaremos inertes e indiferentes a tanta violência que se propaga impiedosamente nas nossas esquinas? Até quando teremos que conviver com quadros tão dramáticos como este da menina Letícia que estampam as capas dos jornais quase que diariamente? Até quando suportaremos ver o mal triunfando sobre o bem e a injustiça prevalecendo sobre o direito? Até quando continuaremos vivendo sob esta estranha sensação de que vidas inocentes e preciosas poderão, igualmente, serem interrompidas a qualquer momento por uma bala perdida?

Como pai de três vidinhas preciosas, expresso aqui meu protesto e minha solidariedade com a dor da mãe e da família da pequena Letícia.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Depois da Torre de Babel, a Torre da Globalização



O relato bíblico do episódio da construção da Torre de Babel afirma que em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar (Gn 1:1). Não havia, portanto, nenhuma dificuldade relacionada à comunicação.

A uniformidade do sistema de signos não somente permitia a integração de toda comunidade em torno de uma só cultura, mas também proporcionava uma unidade de propósito (não serem espalhados por toda a terra) diametralmente oposta à ordem divina de multiplicarem-se e encherem o Planeta.

Corporativamente, lançando mão da tecnologia a sua disposição, não medindo esforços para atingir os mais altos patamares de reconhecimento e realização, a cidade fora edificada sob o prisma da vaidade e do orgulho humano.

Este corporativismo satânico despertou a ira de Deus que tomou providências restritivas, confundindo a linguagem de todos, de modo que um não entendesse a linguagem do outro, pois até então, não se constatava barreiras culturais, nem tão pouco fronteiras políticas. “Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem” (Gn 11:6).

A uniformidade lingüística deixou de ser uma realidade, e assim também a homogeneidade cultural. A multiplicidade de linguagem tornou a comunicação menos efetiva e a integração deu lugar à dispersão.

A re-elaboração de um novo sistema de signos lingüísticos particulares e distintos deu origem às comunidades internacionais, suscitando concomitantemente fronteiras culturais, sociais, geográficas e políticas. Porém, o caráter conquistador e empreendedor do ser humano, ao longo da história o têm impulsionado a percorrer numa direção oposta a que foi deflagrada no episódio de Babel.

A dispersão de Babel vem sendo diluída por um fenômeno universal denominado Globalização. Na verdade, o processo de globalização vem sendo desenvolvido antes mesmo da Era Cristã através de impérios que expandiram seu poderio e domínio por quase todo mundo conhecido, tais como os Impérios Assírio, Babilônico, Persa, Grego e Romano. Aliás, durante o período greco-romano houve uma integração não somente geopolítica, mas também cultural, proporcionada pelas inúmeras estradas romanas e pela língua grega com todo seu arcabouço filosófico e cultural.

Outro período da história absolutamente relevante ao processo de globalização foi a Idade Média com as grandes navegações e as descobertas de novas rotas comerciais e de novas terras. No entanto, é no século XX que nos deparamos com avanços nítidos e significativos desse processo de globalização, tendo como alguns exemplos o fim da Guerra Fria entre Rússia e Estados Unidos da América, a queda do Muro de Berlin, a formação da União Européia, O Mercado Comum Europeu, o Euro, o Mercosul, a Alca, etc.

Todos esses eventos contribuíram para o estreitamento das relações internacionais, mas o que mais caracteriza esse processo de globalização diz respeito à expansão e ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação.

Hoje em dia não somente as formas, mas também a velocidade como as informações podem ser transmitidas são cada vez mais eficientes. Os meios de comunicação desenvolvem cada vez mais tecnologias que facilitam a integração entre os povos, transpondo fronteiras geográficas, políticas e culturais.

Cada vez mais pessoas tomam consciência dessa unidade global e preocupações anteriormente especificas ou regionais vem se tornando internacionais tais como o desmatamento da Amazônia ou de florestas tropicais, o derretimento das geleiras, o buraco na camada de Ozônio, o efeito estufa etc.

Um outro fenômeno proporcionado pelas tecnologias da comunicação, é o da colonização virtual global, onde os processos de aculturação podem ocorrer sem a necessidade do deslocamento físico e pessoal. Por isso, nunca se falou tanto em preservação das origens e das tradições culturais de um povo.

Nesse ponto, a linguagem como um sistema de signos que permite a comunicação entre os membros de uma comunidade constitui-se elemento fundamental ao processo de globalização ou da formação de uma comunidade Universal. Em vista disso, um novo sistema de signos tem sido vastamente difundido e utilizado na Internet, Chat, blogs, orkut etc.: a ciber-linguagem, uma linguagem universal compreendida por praticamente todos os ”linkados” a Grande Rede, independentemente da língua ou nacionalidade.

Parece que estamos diante da construção de uma “nova torre de Babel”, sendo que no processo inverso. Na primeira, de uma única língua se originaram várias e com elas a dispersão. Na segunda Torre, a da Globalização, de várias línguas origina-se uma, e com esta, a reunificação dos povos em uma Comunidade Universal. “Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer” (Gênesis 11:6)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ué! Cadê o Peixe?

Outro dia, após enviar alguns e-mails informando que estavam disponíveis no meu blog as fotos da última pescaria realizada com amigos da Rede de Pescadores, recebi o retorno de um amigo dizendo que tinha visto muitas fotos, porém de nenhum peixe.

Realmente, aquela pescaria foi um fracasso, considerando que o objeto de desejo de cada um, era os famigerados peixes. Aliás, fisgamos apenas um ou outro, ainda assim, muito pequenos. Grande, só a nossa expectativa.

Confesso que ficamos frustrados. Afinal, programamos esta pescaria muitos meses antes. No entanto, nossa frustração só não foi maior porque pudemos estreitar ainda mais nossa amizade.

Fiquei pensando o quanto momentos como estes são importantes na nossa vida. E, como faz bem a alma da gente, tirar um tempo na correria do dia a dia, para simplesmente não fazer nada, trocar idéias com os amigos e jogar conversa fora.

É uma experiência insubstituível sentir a brisa do mar no rosto, se acabar de rir com as piadas mais sem graça, só pra não perder o amigo; dividir o pão, o bolo, a laranja, o biscoito e o “refri” e, depois ver alguns lançarem ao mar tudo que ingeriram.

É..., nossa pescaria não foi um sucesso, mas a koinonia (comunhão), valeu por cada peixe que não pegamos.


A FALÊNCIA DAS INSTITUIÇÕES: Atos secretos e outros sintomas de uma nação na UTI

Estamos tão cercados de maus exemplos em nosso país que tendemos a não alimentarmos qualquer chama de esperança quanto às instituições, sejam políticas, sociais ou religiosas.

Nosso Congresso Nacional está chafurdado num denso lamaçal de sucessivos escândalos. O “bigode” mais famoso do Brasil corre o risco de deixar a presidência do Senado Federal da forma mais indigna e vexatória possível, maculando ainda mais a carreira política deste que um dia teve a honra de ser o trigésimo primeiro presidente da Republica Federativa do Brasil, substituindo o falecido Tancredo Neves.

Nunca na historia desse país veio à tona tanta falcatrua, tanta podridão, tanto desvio do erário e ao mesmo tempo tão pouca percepção disso tudo por parte daquele que está no topo da hierarquia governamental desse país. Como marido traído, é sempre o último a saber. Não viu, não sabe, nem quer saber! Afinal, são “Atos Secretos...”

Por sua vez, falindo também estão as instituições sociais. A barbárie, a violência e a insanidade social multiplicam-se vigorosa e progressivamente em todos os níveis e classes sociais.

No campo ou na cidade, no morro ou no asfalto, no barraco ou no palácio já não se encontram mais em qualquer esquina a ética, a moral e os bons costumes. Para onde foram? Onde se esconderam? Os valores se perderam pelos corredores do poder, pelos becos, pelas ruas e vielas da desigualdade social, nos labirintos obscuros das estruturas familiares sob suas novas configurações.

Derradeira e sofrida, as instituições religiosas, ainda que moribunda, agoniza em balões de oxigênio, sobrevivendo às mazelas, as esquisitices, ao câncer do hedonismo e do triunfalismo exacerbado do neo pentecostalismo brasileiro.

A igreja evangélica brasileira, por exemplo, que tempos atrás era considerada como celeiro missionário para o mundo, hoje tem sofrido de inanição, subjugada aos efeitos nocivos de um evangelho humanista e de outras distorções teológicas, preconizadas na maioria das vezes pelos imperialistas apóstolos contemporâneos.

Acredito, no entanto, que, como disse o profeta Malaquias: “Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve.” (Ml 3:18)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

A Verdadeira Felicidade

Tenho pensado muito nestes dias sobre a felicidade. Coincidentemente, durante esses momentos de reflexão, fui surpreendido com a notícia da morte do mega pop star Michael Jackson. A pergunta que mais ouvimos nestes últimos dias é: “como alguém tão talentoso pôde ter vivido uma vida tão infeliz?”

Costumo dizer que a morte suscita muitas reflexões. Dentre elas, a respeito do sentido da vida. No caso da morte do Michael percebo que não é diferente. Todo sucesso, fama e fortuna não foram suficientes para torná-lo uma pessoa feliz. Nesse sentido constata-se que para muitos a busca da felicidade constitui-se uma meta inatingível.

Segundo Mario Glaab, “para muitas pessoas, a felicidade é semelhante a uma bola: querem-na de todo jeito e, quando a possuem, dão-lhe um chute”.

A verdade é que tem muita gente que não sabe ao certo o que significa a verdadeira felicidade. Para estes, a felicidade significa uma vida sem problemas ou infortúnios. Alguns ainda desenvolvem a idéia de que alcançarão a verdadeira felicidade através da realização ou da conquista de um sonho, de um projeto pessoal, de uma excelente remuneração profissional, da vivência de um grande amor, etc.

O Apostolo Paulo apresenta a Timóteo uma perspectiva completamente diferente do que significa ser feliz. Ele diz: “Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele.” Na verdade, para ser verdadeiramente feliz é preciso muito menos que imaginamos. Paulo continua: “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”.

Schopenhauer disse: “o dinheiro é uma felicidade humana abstrata; por isso aquele que já não é capaz de apreciar a verdadeira felicidade humana, dedica-se completamente a ele”. E, “a nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos”.

O problema é que a humanidade tem se desviado do foco da verdadeira felicidade. O hedonismo, que nada mais é que a determinação do prazer como um bem supremo, finalidade e fundamento da vida moral, tem sido uma das marcas dessa geração pós-moderna.

Infelizmente, o conceito de prosperidade e felicidade tem sido cada vez mais distorcido. Talvez seja por isso que muitos que se sentem tão próximos de encontrar a felicidade que almejam, tornem-se mais infelizes ainda. Por que será que tanta gente que acha que encontrou a felicidade sente-se tão vazia?

Mario Quintana disse: “A felicidade é um sentimento simples. Você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade”.