Nos últimos dias tenho meditado no capitulo seis do livro do profeta Isaías que trata de uma experiência extraordinária vivida por esse profeta. O próprio Isaías descreve os detalhes dessa experiência que ocorre em um momento absolutamente significativo da história de Judá e Jerusalém: “No ano da morte do rei Uzias”, diz o profeta, “eu vi o Senhor assentado num alto e sublime trono.”
Uzias foi um dos principais reis de Judá, tendo reinado por cinqüenta e dois anos em Jerusalém. Durante esse período Uzias tornou-se um rei renomado entre as nações vizinhas em virtude das obras que realizara, do poderio bélico de seu exército, da forma como fortaleceu as atividades agro-pecuárias e da forma estratégica como governava e administrava seu reino.
No ano da morte do renomado rei, Isaias vislumbra três realidades incontestáveis: A primeira é que DEUS É O SENHOR. Enquanto a morte do rei Uzias apontava para a condição humana, pois por mais significativa e realizadora que seja a existência, por mais empreendedora e prospera a nossa vida, esbarramos na nossa finitude. Em nítido contraste está a infinitude e grandeza da Soberania de Deus. Seu reino é sempiterno! Ele está acima de toda ou qualquer regência humana. Ele governa e administra a história dos homens. Deus não perdeu o controle da história, o homem é quem se perdeu na história de Deus.
A segunda realidade incontestável na experiência relatada pelo profeta Isaías é que além de Senhor, DEUS É SANTO. Na visão de Isaías os serafins de rostos e pés cobertos por suas próprias asas, diante da glória de Deus, clamavam uns para os outros, dizendo: “SANTO, SANTO, SANTO É O SENHOR”.
A terceira realidade incontestável é, inevitavelmente, resultado da constatação das duas primeiras: SOMOS PECADORES! Diante da percepção avassaladora da soberania e da santidade de Deus, não se poderia esperar outra atitude de Isaías, senão dizer: “AI DE MIM! ESTOU PERDIDO!
Existe um padrão moral que transcende ao padrão inerente ou próprio de cada ser humano como criatura de Deus. A consciência moral de que somos pecadores pode ser imanente com base nos pressupostos culturais e nos valores desenvolvidos no processo de constituição da subjetividade humana, ou até mesmo pela capacidade dada por Deus de distinguirmos o bem e o mal. Porém, a convicção de que estamos perdidos advém, fundamentalmente, da consciência da santidade divina em contraste com nossa insuficiência para nos purificarmos.
Enfim, saber que ELE É O SENHOR, que ELE É SANTO e que SOMOS PECADORES não é nenhuma novidade. O grande problema é que, por serem realidades tão óbvias, não as levemos tão a sério. É exatamente aí que nos deparamos com uma realidade dramática: ESTAMOS NOS TORNANDO INDIFERENTE A TUDO ISSO.
O autonomismo e o hedonismo do nosso tempo têm diluído a verdade bíblica do senhorio de Cristo. A vivência cristã contemporânea tem deixado de ser Cristocêntrica para torna-se antropocêntrica. Muitos que se denominam “servos de Deus” são na realidade “senhores de Deus” impetrando ordens e decretos àquele que é O SENHOR DOS SENHORES.
O relativismo do nosso tempo também tem dado a sua contribuição no que tange a uma nova configuração dos padrões de vida santa. Novos Paradigmas têm neutralizado valores absolutos das Escrituras tornando cada vez mais difícil fazer a distinção entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não serve. Não nos importamos, nem nos motivamos a ser santo como Ele é SANTO. Também não nos desesperamos mais com o pecado. Sabemos até que somos pecadores, no entanto, não lamentos os nossos pecados. (Aliás, falar sobre pecado tem se tornado um tabu em muitos dos nossos púlpitos – “não é politicamente correto”). Nossos olhos estão áridos, nosso coração empedernido. Não há mais confissão de pecados. Nossos rostos não ficam mais enrubescidos de vergonha.
Quando Isaías clama: ”Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” Ele descreve a atitude de alguém que de fato viu o Senhor com seus próprios olhos, de alguém que teve uma experiência pessoal e insubstituível com o Deus essencialmente Santo.
Isaías tem a nítida noção da incomunicabilidade do pecado com o Deus Santo. A resposta de Deus para a insuficiência do profeta de auto purificar-se estava no altar. O altar aponta para o sacrifício de Cristo, o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, aquele que veio buscar e salvar o que estava perdido. A brasa tirada do altar aponta para o seu Espírito que a nós por Ele foi outorgado.
No amor do Pai.